holofote

Seus olhinhos brilhavam, mas não brilhavam de alegria ou contentamento, brilhavam a lucidez de uma tristeza que conseguiu perfurar meu olhar, eu apenas os desviei, eu consigo ouvir o seu pedido de socorro a milhas de distância eu sinto isso mais do que nunca senti, eu queria poder inclinar minhas mãos e dizer-lhe que elas de algum modo podem oferecer-lhe um certo conforto, eu queria ouvir-lhe nem que seja para não dizer nada, apenas te ouvir, mas a verdade é que nunca fui cais de alguém e alguém nunca foi o meu, eu não penso em me ausentar daqui de dez em dez dias, uma ou outra vez, isso me persegue vinte e quatro horas e o que ainda me mantêm aqui é uma minúscula crença que não sei por quanto tempo ficará, as vezes vagueio pela rua a procura do abstrato sinto que ela me espreita e pode me abocanhar assim como o abocanhou, sinto-me submersa pela voracidade da insignificância, sinto-me abandonada de todas as formas pelas artimanhas do talento, e isso me dilacera como um sanguinário despedaça suas vítimas, sinto de algum modo um vento sombrio que abre minhas cortinas todas as manhãs, vejo um despertar sonolento que me acompanha do nascer ao pôr do sol e não tenho sequer um barco a vela que possa me dar um certo alívio das trevas que tem se apoderado do meu Ser ultimamente. Veja, há uma significância entre nós, você tem um porto o qual pode se acomodar a qualquer momento e ainda não sei porque não o procura, talvez os seus olhos possam me explicar da próxima vez, enquanto deslizo meus dedos pelo teclado tenho medo por você, tenho medo do que esteja planejando nesse momento. Acho que você foi o(a) único(a) que de alguma maneira se “esmerou” ao meu conselho, e de mãos abertas mostrou-o a mim já concluído.

“Quando tá escuro, e ninguém te ouve

Quando chega a noite e você pode chorar

Eu estou na lanterna dos afogados

Eu estou te esperando vê se não vai demorar”

 Os Paralamas do Sucesso

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Inteiramente

Eu me vi dentro da íris dos seus olhos, tão penetráveis, que fizeram emergir dentro de mim a estranha sensação de sentir o fogo que acendia neles, eu me vi na insanidade de te refazer em mim, eu prato limpo e seco, você louça branca e lascada em perigosos pedaços, eu sei manipular você e percebo que a cada composto distorcido eu te vejo acomodar mais em mim, eu sei ser sua válvula de escape, eu sei ser sua arma secreta, eu posso, eu sei, eu sou o que você quer que eu seja porque sei que sou o que você  precisa, eu sei a anatomia do seu coração posso descreve-la inteiramente, eu sou tudo, mas não sei ser os compassos rítmicos do seu coração, inteiramente não sou nada…

Autoquíria

suicide

Eram sete, no dia seguinte eram mais um, mais a tarde mais dois. A noite ela analisava indecisamente as cartelas no banheiro, fármacos misturados… Seu estômago ardia em chamas já se passara vinte e quatro horas e os efeitos persistiam. E se libertasse ali naquele cômodo? Deixaria as crises da existência, deixaria os sonhos, e a impotência de não realiza-los, tudo colaborava para ser um fim “monumental” era frio, Continuar lendo

Ponderando

ponderar

Tenho observado a vida há algum tempo, bem, desde de sábado. tudo começou com um chá de morango, chá de morango, eu nunca havia tomado e sequer ouvido falar, aguardava ansiosamente para chegar em casa e prepara-lo, Mate, Morango, embalagem vermelha, e com pacotinhos internos bem embaladinhos, Lindos! Se colorir é artificial se não colorir é natural, pensava comigo mesma enquanto adicionava água fervente à minha xicarazinha reluzente, decepção, apenas isso, meu chazinho não só coloriu com um tom bastante rubro rosado como também exalou um cheirinho de suco de pacotinho Fresh, até os chazinhos são manipulados: pensei frustrada. saudade do meu chá preto ou até mesmo mate, saudade do chá de erva cidreira que perfumava o terreiro de vovó, saudade do chá de hortelã fresco que papai plantava na horta, saudade do chá daquela florzinha cor do pôr do sol que até hoje não aprendi o nome. Ontem a nostalgia brandou impaciente no meu ser enquanto ouvia “Casinha branca” regravada por Roberta Campos e por um momento pensei que o meu coração seria deslocado do meu mediastino, a dor dissimulava a nostalgia e ambos andavam juntas naquele momento fazendo o meu ser corroer em todos os sentidos, agora chove, hoje chove, fazendo o meu ser novamente banhar-se em emoções confortáveis ou pelo menos por enquanto.

Ainda no sábado fui surpreendida com um vídeo na minha timeline. Uma mulher na China atropelada enquanto cruzava a faixa de pedestres, pessoas e carros passavam, o semáforo abria e fechava, algumas pessoas olhavam outras nem sequer faziam isso, em um momento ela levantou a cabeça mas suas pernas não se movimentavam, e ela novamente colocou a cabeça sobre o asfalto, um outro carro a atropelou mas dessa vez sua cabeça não se mexia, o vídeo não era de uma esplêndida qualidade mas ainda assim pude perceber o sangue naquele momento esguichar-se em algum canto ali, ela permaneceu jogada até o final do vídeo, morta. É certo que nós cidadãos Brasileiros não somos lá de Sapiens bom exemplo, mas uma única coisa posso me orgulhar pelo menos por enquanto, somos mais calorosos, e nem que seja pelo menos por curiosidade se alguém for atropelado a nossa frente certamente ajudaremos, por favor se alguém me lê nesse momento concorde com minha conjugação “ajudaremos” talvez eu seja utópica demais mas confesso que ainda mantenho uma pouca fé na humanidade, pelo menos em nós, não somos a primeira Potência mundial, nem a segunda, e nem a terceira, mas Brasil me ajude a conjugar esse verbo: ajudar. O desfecho desse rascunho certamente não será para fins reflexivos nunca fui boa com isso, quero apenas observar nesse instante, observar o que há dentro de mim. Ainda falando sobre o caso acima, domingo enquanto ia para o trabalho, da janela da lotação pude ver um rapaz que caminhava sobre a calçada voltar atrás e ajudar um senhor que quase caía de bêbado pelo chão que impaciente escorava sobre as paredes das lojas, mas a questão é: alguém estendeu-lhe a mão e isso é tudo e como esperei alguém me ajudou a conjugar o verbo.

Observação 2: Não sei se você percebeu mas hoje é dia dos namorados, e hoje foi o dia que o universo resolveu me presentear com flores, quer dizer observa-las enquanto resplandeciam sua beleza em mãos alheias nunca vi tantas mulheres com rosas como vi hoje, até o universo zomba da minha situação de solteira rsrs. Hoje um garotinho de uns 4 anos aproximadamente esqueceu uma flor em meu caixa, eu já a havia guardado e tinha planos mirabolantes em minha cabeça eu a levaria para casa, como fiz na semana anterior com uma borboleta seca que encontrei no chão do supermercado, ela será eternamente minha mesmo tendo sido dissecada pela minha bolsa, o insetinho ainda poderia servir de adubo para fotossíntese (meu cacto) não, seu destino não seria para ele, ela ficará na página 183 de Persuasão que encomendarei na estante virtual. Como dito anteriormente o molequinho voltou e arrancou a flor de mim.

Ainda chove, e ainda lembro da poesia de Ana Cristina César… E me acho incomum nesse momento.

E isso é tudo.

Meiguices à Antônia

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lendo-na-rede

Sete lagoas, sexta-feira 14 de abril de 2017

Olá,

Tenho te observado há algum tempo, e tudo que percebo é que aos poucos você vai se distanciando dos impérios que construímos juntas. Construímos com sangue, ou você não se lembra mais? Eu me irrito. Por que não vê a vida como vejo? Por que não acha distrações nas suas distimias? Por que à procura?

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Intríseca

intriseca

Empírica, guardiã das teorias não fundamentadas

Estigmas sombrias feitas por si própria

És mais do que percebe

Intríseca, ainda há sobre ti a delicadeza

Em xeque é colocada, não te remarque, eu a percebo

És mais do que discerne

Há sensibilidade por todos os cômodos, ainda vê

Seus sentimentos são misturas homogêneas

Mas ainda é nítida sua origem Continuar lendo