Autoquíria

suicide

Eram sete, no dia seguinte eram mais um, mais a tarde mais dois. A noite ela analisava indecisamente as cartelas no banheiro, fármacos misturados… Seu estômago ardia em chamas já se passara vinte e quatro horas e os efeitos persistiam. E se libertasse ali naquele cômodo? Deixaria as crises da existência, deixaria os sonhos, e a impotência de não realiza-los, tudo colaborava para ser um fim “monumental” era frio, o tempo que Jonh Keats falecia, era bom pensar nisso, havia alguém no quarto que a socorreria caso ela se arrependesse, mas não havia coragem, passou as mãos pelo pescoço e descobriu sua carótida, pulsava como nunca pulsara antes, como se a convidasse para a maquinação de um outro plano, seria desvantagem de acordo com as suas premonições, mal tinha audácia para deixar que lhe espetassem com agulhas de laboratório imagine auto-aplicar alguma substância na corrente sanguínea, esse fim não seria Keats.

Há algum tempo, não muito, isso não caberia nas suas escolhas, e certamente ela se sentia o ser mais perfeito por não pensar nessa “atrocidade” o respirar nunca foi uma glória para si, mas também não era um problema (isso, algum tempo). Seis anos atrás ela esperou, os ponteiros negros e grandes do relógio na parede anunciavam a espreita do abstrato, mas ela não veio, uma outra vez na curva acentuada ela sentiu o bater das suas asas sobre o teto mas naquele dia ela também não apareceu, por vezes seu rosto era descoberto por algum motivo mas não seu corpo, era como se ela rodeasse mas não ousasse despir-se totalmente, por fim apareceu, as oito daquela noite não só seu rosto mas sua espádua já era nítida naquele instante, o perfil já estava quase por completo, e ainda mais tarde o negro da sua roupa era como um réptil peçonhento em volta dos seus pés, sim, ela se despiu  no sombrio dos 180 daquela noite.

Mergulhou-se nas salinas das suas lágrimas naquele instante, era absurdamente covarde em liberta-se, ouve movimento no quarto, abriu a gavetinha e jogou bruscamente as cartelas e por fim saiu em mais desespero que poderia caber em seu interior. Haveria se quer uma acentuação de razão para manter-se ali?

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