Tempestade de dentro

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Nem parecia ela mesma. A vida fora dos vidros da lotação que outrora lhe traziam uma simples felicidade agora a irritava, os galhos da árvore da praça que balançavam e deixavam cair no chão folhas secas agora a perturbavam o pensamento e a fazia concluir como as folhas sujavam as ruas, em outros tempos elas lhe traziam inspiração e uma leve expressão de riso no rosto, em outros tempos o simples fato de quase perder a lotação e ter que para-la a força lhe trazia na mente uma situação cômica e merecedora de aplausos, afinal ela quase a perdeu mas enfim conseguiu alcança-la a tempo, o fone nos ouvidos a fazia viajar em uma música antiga que a acompanhava até o local de trabalho, hoje o fato de o fone estar embolado na bolsa já era situação de chateação e decisão de nem toca-lo, ontem ela havia entrado com um livro nas mãos, não porque pretendia lê-lo no intervalo ou até mesmo dentro do ônibus, mas porque havia gostado tanto do livro que queria que as pessoas a vissem com ele e vessem que ela o tinha em mãos, Continuar lendo

Carta de um canalha

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Moscou, Quinta- feira, 22 de agosto de 2013

Catarina querida,

Salve! Enfim a Moscou…

Flor minha, confesso que não sei por onde dar início à uma das narrações mais entusiastas da minha vida, começarei da minha partida do Brasil, como você sabe, chego aqui não por minha vontade, pelo menos até ontem, mas uma missão inesperada comandada pelo ”digníssimo” vice- presidente da Provérbios, é… Editor é editor apenas obedece e não se discute… Continuar lendo

Amor favorável

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-Homens  são todos iguais não existe homem que não traí, não existe homem de uma só mulher…
-Não, existe sim, o meu é só meu… Aliás, até que eu saiba de alguma coisa…
Risadinhas…
-Existe sim, embora seja minoria mas ainda existe.
Ouve-se uma voz convicta do que está dizendo quase atropelada pelas ondas do café na boca.
-Não existe, não tem como…
Entre risadas e opiniões opostas calam-se as três vozes, ao lembrarem que na salinha do lado, há uma pessoinha, digitando continuamente o teclado, óbvio um ser de outro gênero: homem.
Talvez esteja em frente ao computador nesse instante a pessoa mais otimista entre todos os humanos da terra, ao acreditar que exista amor verdadeiro, faz sentido estar ao lado de alguém que não confia e há dúvidas sobre a sua fidelidade? Para mim não…Faz sentido viver fazer aniversários amadurecer ideias e crer que não exista amor verdadeiro e fiel? Que “tooodos” os portadores do cromossomo XY sejam todos iguais? É irrecusável isso não entra na minha cabeça.
Não que eu esteja romanceando ao extremo ao ponto de acreditar em contos de fadas e finais sempre felizes para os restos dos dias, eu estou acreditando ao ponto de dizer com propriedade que nesse, nosso mundinho moderno e sem expectativas de sentimentos humanos ainda existe amor… Se não existe porque você escreve poesias enquanto reflete sobre seu estado emocional? Se não existe porque ouve músicas românticas? Nunca parou para analisar velhinhos andando pelas ruas de mãos dadas com rostinhos satisfeitos? Nunca ouviu uma declaração de um senhor de 70 anos de idade dizendo à sua esposa que ela é linda, mesmo vendo rugas no seu rosto? É como encontrar uma agulha no palheiro, você sabe da sua existência em meio aquele amontoado de bagunças e capins secos, é difícil de ser encontrada, mas ela existe e você sabe da sua existência em algum canto ali.
Decepções, ilusões… seu estado de agora tem feito você a não acreditar mais em sentimentos verdadeiros? Mas já parou para pensar que talvez sua incredulidade “amorfóbica” seja culpa de si mesmo? Acreditou demais? Amou demais? Fez demais? Escondeu de si mesmo a verdade?
Talvez o amor que você esteja vivendo ou viveu algum dia, é favorável ou foi favorável a si mesmo, o amor adaptativo… Você seleciona as pessoas que viverão ao seu redor, amigos ou coisa do tipo, já observou que geralmente nossos amigos mais chegados tem os pensamentos quase iguais aos nossos, os mesmo gostos, até mesmo roupas? Ouvi por aí que os estudos comprovaram que amigos são geneticamente semelhantes… Imagine amor… Você é assim e quer amor assado, se você é assim você terá assim, se for assado terá assado. Lugares onde você costuma frequentar é assim ou assado? Se é assim como você quer encontrar assado ali? Mais valores por favor! Existem formigas no formigueiro não abelhas, felicidade vai ao encontro de todos meu caro, se você não nasce com ela tem o poder de busca-la e encontra-la para si com suas próprias forças, mas só uma coisinha, se és abelha procure uma colmeia, sem formigueiros por favor! depois não vá reclamar e dizer que sentimento verdadeiro não existe, você buscou em lugar errado buscou na pessoa errada.
Pois bem, não que o amor não exista, talvez você não o encontrou ou não soube vivê-lo.

Cartas ”esquecidas”

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Cartas jogadas sobre o chão da sala, cartas memorizadas em cada rabisco de palavras erradas, cartas lembradas e agora esquecidas, ela abriu a porta da sala e rodeou a casa , como se pensasse em fazer mais alguma coisa, não encontrou o que queria voltou e sentou-se novamente no chão e as leu novamente, as leu pela última vez, ela sabia que aquele era o último momento que as veria, elas não mais a pertenceria, pertenceriam a terra ou qualquer outra pessoa que as encontrasse, pensou em queima-las, queima-las não, queria que fossem gravadas na memória de alguém como ficaram na sua memória um dia, queima-las seria como aniquila-las de seu poder sensibilistico e isso não era a sua vontade. Enterra-las, sim, enterra-las na porta da sala, elas se degenerariam com os meses e se transformariam em pó, lembrou-se do que o professor falara um dia, que petróleo são restos decompostos de florestas e animais da antiguidade, para ela suas cartas eram parte de uma floresta, os papéis foram um dia árvores derrubadas e cortadas, transformadas em páginas vazias, sim suas cartas se transformariam em petróleo, alguém as usaria um dia sem saber de sua importância sem notar que o líquido homogêneo um dia fora uma carta branca cheio de vazios de alma. Mesmo que não fosse verdade isso a fazia feliz, acreditar que suas cartas um dia teriam um preço que hoje não tinham. Pensou novamente e chegou a sua teoria, Petróleo? para quê transforma-las em algo valioso que poderia ser usado para fazer mal a alguém? Não, ela não queria que suas cartas fossem lembradas como parte de algo ruim queria transforma-las em delicadeza de espírito… Não as enterraria para que virassem pó, as enterraria para que virasse lembrança e história. Foi até o quarto e trouxe uma caixinha de plástico retangular, sim, as colocaria e as enterraria como se fosse um tesouro perdido que seria encontrado um dia, as dobrou vagarosamente e junto com elas colocou um pingente, seu único pingente de ouro, não exatamente ouro mas banhado a ouro, escreveu a última anotação em uma folha branca e colocou por cima do entulho das cartas.

Vazios de uma alma esquecida”

Imaginou uma criança brincando no terreiro e encontrando aquela preciosidade secreta, leria vazios de uma alma e não entenderia nada, chamaria a mãe na cozinha e contaria sobre o seu tesouro encontrado, a mãe leria as cartas e as guardaria como lembranças encontradas de uma alma vazia e esquecida, apenas isso e elas passariam de geração em geração naquela família…

Imaginou outra hipótese, uma adolescente de aproximadamente 17 anos rodeava a casa como ela fizera naquela tarde, seus olhos estavam vermelhos, seus cabelos negros bagunçados, estava descalço, pegou alguma coisa escondida na área, uma faca, ela segurava a faca e voltava em direção a porta da sala, sentou-se debaixo da arvorezinha que enfeitava o terreiro e chorava incontrolavelmente, deitou a cabeça sobre os joelhos e brincava de passar a faca sobre seu pés, levantou os olhos passou com força o lado contrario da faca sobre os pulsos, e a lançou sobre a terra úmida, percebeu que perfurava algo de baixo da terra, houve dor dentro si ao imaginar que poderia estar perfurando o casco de um inocente tatu que dormia de baixo da terra fresca, tirou a faca, e teve imensa curiosidade em descobrir o que havia estragado seus possíveis últimos momentos de vida, começou a desenterrar e revirar a terra, suas mãos frágeis e sujas alegraram-se ao encontrar uma caixa de plástico, ressecada e desbotada, havia uma perfuração na tampa e ao abrir deparou-se com papéis dobrados, por cima escrito a seguinte frase: “Vazios de uma alma esquecida” abriu um sorriso ao ler a frase em pensamento, pois era justamente o que sentia, vazio, vazio na alma, sentia-se como uma alma esquecida e aniquilada, mais que rapidamente descobriu-se todas elas e pôs-se a lê-las, percebeu que a autora das cartas contava seus vazios de alma descrevia derrotas e vitórias, as vezes chorava com as palavras as vezes sorria com elas, tampou o buraco que ficara na terra, e esqueceu-se a faca jogada debaixo da árvore foi até seu quarto e terminou de lê-las com maravilhosa paciência, a autora na época com 22 anos chorava na carta seguinte e sentia-se como alma vazia e fragilizada, abandonada sobre o teto do mundo, escrevia a alguém que não conhecia contava sua vida como se tivesse certeza que alguém com as mesmas dores as encontraria um dia, levantou-se da cama e as guardou novamente do jeito que as havia encontrado, ao pô-las percebeu alguma coisa no fundo da caixa, era um pingente, pequeno e brilhante uma tartaruguinha com olhinhos de vidro que a olhava como se tivesse vivenciando aquele momento, ela sorriu ao coloca-la no fundo novamente, olhando para a perfuração da caixa pensou em reconstruí-la, mas desistiu ao pensar que sempre se lembraria daquele momento, abriu a última gaveta da cômoda e a guardou. voltou para a sala e lembrou-se da faca jogada no terreiro foi à pia a lavou e a guardou na gaveta da cozinha, olhando para as unhas sujas de terra olhou no espelho e prendeu o cabelo num coque, pegou a toalha e foi para o banheiro, em seguida viu na mesa da sala um livro, Tempos de neve, esse era o título, deitou-se no sofá e pôs -se a lê-lo durante toda a tarde, esperando o retorno da mãe….

Ela gostou da segunda hipótese, e com um sorriso meigo no rosto enterrou a caixa, sentada na porta da sala admirou ao notar que alegrava-se ao ver o sol se pôr, e mais uma vez sorriu, fechando a porta da sala.