Meiguices à Antônia

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Sete lagoas, sexta-feira 14 de abril de 2017

Olá,

Tenho te observado há algum tempo, e tudo que percebo é que aos poucos você vai se distanciando dos impérios que construímos juntas. Construímos com sangue, ou você não se lembra mais? Eu me irrito. Por que não vê a vida como vejo? Por que não acha distrações nas suas distimias? Por que à procura?

Enquanto eu tento escrever ou fazer algum ato rotineiro com a mão esquerda esperando assim desenvolver os neurônios desse lado do meu encéfalo, você já nasceu com habilidades que eu levaria meses ou anos para desenvolve-las. Há tanta percepção e você não as vê. Sei que a irrita, mas nesse momento tenho vontade de ouvir “The phantom of the Opera”. Sentiria repulsa se te escrevesse sob essa melodia?

Alivia-te, pois a trilha que toca é tão melancólica quanto você, ou quanto as coisas que você escreve, por isso eu a escolhi, ela é a falta de serotonina perfeita para descrever ou pensar em você, eu já te mencionei em alguma vez, e como sempre seu gosto se convergiu ao meu. Chora em outro cômodo… eu sei que você quer dizer ou apenas explodir diante de mim é seu feitio essa prática, mas tenho a impressão que pensa sem ao menos perceber: “Se ela não desaba, porque eu deveria?”

Talvez devesse, mas não consigo, e por vezes isso corroí tudo o que levei anos para construir, ou não… talvez isso faça-me bem, impede que eu seja descrita com facilidade e isso me alegra, e como alegra! Talvez eu seja mesmo a bruxa do século XXI: eu não amo gatos, não tenho paciência com crianças, e tomo xícaras intoleráveis de cafeína, gosto de ver um peito aberto em uma maca, tenho uma caída por documentários de acidentes aéreos e atualmente tenho tentado desenvolver uma sensibilidade com microexpressões, isso não me faz ser uma bruxa, faz?

Você não percebe que você mesma dispersa o potencial que há, você o manipula, e o faz ficar acomodado e travado dentro do eu que você julgou ter. Talvez nem há tanta dor assim, talvez a insignificância de palavras ditas há anos tenha te feito ser uma orca presa num estômago de salmão. É tudo o que eu vejo, não há outra suposição. Antônia, vejo o que você vê, mas os seus olhos dia após dia se projetam a não enxergar que a neblina já se dispersou. Você não procura o talento, ele anda à passos largos e definidos atrás de você e sobre tudo que você planeja ou faz. E quando não der certo, é porque ao menos uma vez na vida é preciso que oportunidades sejam dadas a outras espécies de Sapiens.

 

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